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sábado, 28 de agosto de 2010

A tal da York Street

Nesse exercício, descrevi uma rua em estilo literário. Nesse caso, uma rua da cidade de Kennebunk, Maine, EUA. A história é verídica. Se você gostou do texto deixe seu comentário. Se não gostou, deixe sua crítica. Espero que gostem!

Era cedo, cerca de nove horas da manhã, mas meu relógio biológico já anotava o horário do almoço e meu estômago implorava por alimentos. No carro, eu e o Sr.Andrew, que com o tempo vestiria a carapuça de chefe-indesejado. Até então a conversa entre os dois era tranqüila, pautada pelo respeito mútuo e uma tentativa, por parte do norte-americano, de deixar-me à vontade no novo país. Foi nesse contexto que entrei, pela primeira vez, na York Street, ou Rua York até então. Fiquei encantado.

Era apertada. Tinha dúvidas se dois carros em direções diferentes poderiam usufruir da rua ao mesmo tempo. As casas correspondiam ao estilo norte-americano que tinha em mente. A grama repousava por debaixo da espessa e antiga camada de gelo que cobria o pequeno jardim à frente das residências.

O restante da neve estava sobre o telhado baixo das casas e parecia teimar em não cair. Algumas tinham dois andares, outras, uma garagem ao lado das casas para guardar os carros que pareciam não querer desafiar o mau tempo. Mau tempo que se explicava naquele momento com um frio que cortava e ao mesmo dava as boas-vindas. O Sr.Andrew continuava a falar, mas percebia que minhas palavras e frases estavam todas juntas em minha boca. Uma querendo sair antes da outra, tamanha era a ansiedade e o gosto pelo novo que vivenciava no momento.

“Esta é a rua do Lodge”, disse ele e calou-se, a observar um jovem que mais parecia uma criança observando tudo e todos. De repente, falou novamente: “Este, na rua, é um dos brasileiros que já chegaram”. “Já o conheço”, respondi, “ao menos de vista”. “Deve estar indo ao mercado”. A rua parecia pequena. Deveria comportar algumas casas apenas e só. Seta para a direita, o carro vira e paramos. “É aqui”, disse o Sr. Andrew. Havíamos chegado ao hotel. Ao descer do carro fui em direção ao porta-malas, retirar minhas malas.

Esses segundos pareciam ter durado longos minutos, nos quais pude observar o que me esperava na vizinhança. O hotel eu já conhecia por fotos da internet. O susto veio quando percebi o real tamanho do local. Era grande e poderia dizer o mesmo do estacionamento, que comportava cerca de 20 a 30 veículos. A neve estava por todos os lados e o horizonte parecia...branco! Não nevava no momento em que cheguei e as ruas, em si, também não tinham os flocos brancos. Uma indicação de que aquela neve deveria ser mais antiga.

Até chegarmos ao hotel passamos pela York Street em sua área mais habitada, mas eu não havia visto sequer um comércio no local, tanto era meu espanto com a belíssima paisagem natural. Alguns dias a mais na cidade e eu perceberia que minha impressão inicial sobre a YorkStreet estava completamente errada, a não ser por algo que deixo para o final.

A rua não era apertada, era larga o suficiente para comportar quatro carros lado a lado. O aspecto facilitava a caminhada dos pedestres que podiam, por muitas vezes, caminhar pela rua já que a neve tomava conta das calçadas. Os pedestres, nesse caso, eram apenas os estudantes. Loucos e insanos o bastante para caminhar naquele frio. Frio este que já não me assustava tanto após as primeiras semanas.

Era como se eu estivesse mais acostumado com as temperaturas baixas. Andar, acreditem, não era o problema. A York Street realmente tinha muitas casas. Nos três meses que fiquei lá, no entanto, não vi sequer um’alma viva perto das residências. Talvez fosse pelo frio, talvez fosse cultural, talvez eu nunca saiba o por quê.

A rua não era pequena, pelo contrário, era grandíssima. Isso tornou-se um martírio a cada vez que decidíamos ir ao supermercado, academia, lavanderia ou até mesmo à pizzaria. Era longe. Era muito longe. Era realmente muito longe, mas valia à pena.

O comércio do local se resumia a duas pizzarias, uma frutaria, uma loja que vendia pinheiros para o Natal, um restaurante tailandês e, por mais incrível que pareça, uma sorveteria.

Esta rua talvez tenha sido o local mais visitado por mim em três meses nos Estados Unidos. E após quase 90 dias em solo norte-americano pude ter uma certeza. Minha visão sobre tal rua poderia haver mudado, mas algo ainda restava: continuava encantado com a York Street!

3 comentários:

  1. Demais, Thassio! Vc escreve bem pra caramba. Não sei se é porque estou emocionalmente ligado a essa história, mas adorei o texto. Maior saudade!
    Espero por novos textos, senhor.

    Abraços

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  2. belo texto, velho

    Aliás, gostei do título do blog. bem apropriado pra ti.

    Abraços

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  3. Muito obrigado pelos elogios e pelo incentivo, galera! Foi realmente muito bom fazer esse texto porque esse estilo de narrativa é bom para quem escreve e também para quem lê.
    Agradeço de coração!

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