
“Vocês não precisam ficar. As próximas cenas não serão nada agradáveis”, advertiu e em quinze minutos depois voltou com um saco preto. Era pesado e praticamente impossível de se perceber o que poderia haver nele.
O homem segurava o saco com as duas mãos, mas não indicava dificuldades para carregar o que parecia pesado. Pelo contrário, andava como se estivesse orgulhoso daquilo, exibindo sua caça, mostrando o que havia sido abatido.
Caminhou em direção ao canil da residência sem nem ao menos dirigir o olhar aos presentes. Se o tivesse feito, veria uma interrogação no rosto de cada um. Um misto de dúvida, aflição e agonia.
Ninguém queria acreditar, todos tinham de medo de admitir mas, sim, era o corpo da jovem Eliza Samudio que repousava dentro do saco. Repousava porque já havia passado por todas as atrocidades imagináveis durante os últimos dias. Finalmente, parecia ter encontrado seu descanso, mesmo que não fosse o desejado. Agora seu corpo estava quieto, parado, em repouso, mas também esquartejado.
O homem parou em frente ao canil a observar os quatro cachorros pretos que latiam sem parar, ansiosos e temerosos pelo que haveria de se seguir. Ele então abriu o saco, retirou uma das mãos da jovem e atirou aos cães, como quem atira um brinquedo a um animal. Novamente, colocou os braços dentro do saco preto e atirou a outra mão da mulher no canil.
A reação foi imediata. Os cachorros atacaram as partes do corpo da jovem com voracidade, enojando quem podia ver as cenas de longe. Em minutos tudo estava acabado e o rastro de sangue ainda no canil e na boca dos animais, que seguiram para refrescar-se e limpar-se na água que estava ao lado do local, coberto, onde eles dormiam.
O homem não apresentou uma reação sequer. Agiu como se estivesse preparando uma salada, cortando os tomates e atirando-os contra a alface já picada. Não sorriu, não chorou, apenas continuou sério. Fechou o saco preto e recolheu-o para um canto escuro.
Quem estava na cena não pôde acompanhar o restante das cenas. Ele voltou então, cerca de dez minutos depois, sem camisa. A vestimenta estava em suas mãos, sujas de sangue.
O menor, que havia sido o responsável por levar a jovem ao cativeiro, observava tudo e temia pelo pior. Algumas lágrimas brotaram em seus olhos e a sensação foi d’uma tristeza que ele jamais conseguiu explicar a ninguém. O olhar perdido ia buscar repouso nas lembranças da família, que logo poderia ver. Aquele segredo, no entanto, ele teria de guardar. Será que conseguiria?
“Fiquem de olho nesse moleque! Eu não vou me sujar a toa”, declarou o homem, sem olhar para ninguém. Muito menos aumentou o tom de voz. Ele simplesmente caminhou em direção à porta da casa, a mesma por onde havia saído, e ao chegar perto do grupo chamou a atenção para o nervosismo demonstrado pelo garoto.
Entrou, fechou a porta e foi tomar um banho. Os que estavam lá fora tentavam controlar a ansiedade para descobrir o que havia acontecido com o restante do corpo da jovem. “Vamos embora”, disse Bruno. Ele estava calmo, sabia o que iria acontecer no local e não se assustou com os acontecimentos. Todos o seguiram, como sempre.
Ele abriu a porta do motorista, entrou no carro, ajeitou-se, encostou a cabeça no banco e respirou fundo. Um respiro de dúvida, talvez de medo. Um receio do que aconteceria a seguir. Ele então olhou para trás. O menor estava apavorado, segurando o choro, mas conseguiu dizer. Talvez as palavras mais claras já ditas por ele. Talvez as mais sinceras. Talvez, para o goleiro, as mais assustadoras: “Isso vai dar merda!”
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