Pesquisar este blog

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Assalto na Zona Norte da Capital Paulista

A história abaixo é real. Fiz esses dois textos com um propósito de relatar a mesma notícia em estilo pirâmide invertida e jornalismo literário. No primeiro, utilizei a fórmula clássica do jornalismo atual. No segundo, optei pelo jornalismo literário. É possível, obviamente, perceber mais detalhes no texto 2. Além disso, com ele foi possível despertar a emoção da história. Espero que gostem e comentem!


Gritos de crianças salvam família de assalto

Um assalto só não chegou ao fim na noite deste domingo em São Paulo por conta dos gritos de duas crianças. O fato ocorreu no bairro do Jardim Peri, zona norte da capital por volta das 20h.

Ladrões entraram na casa de uma advogada momentos após ela ter saído. No local estavam apenas os filhos da mulher: uma menina de 12 e um menino de 8 anos. No momento da entrada dos bandidos os dois estavam no andar de cima da casa e, com os barulhos, desceram para ver o que estava acontecendo.

Quando repararam a presença dos criminosos, os dois subiram novamente gritando e foram em direção à sacada. Tentaram pular para a casa do vizinho e, com isso, chamaram a atenção da vizinhança, que chamou a polícia.

Os bandidos se assustaram e fugiram, antes da chegada dos policiais. Incrivelmente nada foi roubado e, apesar do susto, todos passam bem. Inclusive as crianças.




Gritos de salvação

Já passava das 19h e o início do programa Fantástico, da Rede Globo, indicava mais um fim de domingo. Era hora de requentar a macarronada do almoço, esvaziar a garrafa de refrigerante, conferir os gols da rodada, assistir uma reportagem-denúncia, revoltar-se, rir com um quadro de humor e dormir. Afinal, o dia seguinte era a temida segunda-feira, inimiga de tudo o que há de bom neste singelo universo.

Noêmia se preparava para sair. Tinha de ir ao supermercado, rezando para que este ainda estivesse aberto e, assim, pudesse comprar as cartolinas que o filho, Bruno, revelou serem necessárias para a aula de artes de segunda-feira.

O menino de oito anos era mestre em avisar a mãe na última hora. Mãe que é mãe sempre faz milagre e Noêmia já nem colocava o pijama nos domingos à noite. Esperava por algum imprevisto para correr à loja mais próxima.

Naquele dia, arrumou-se e foi em direção ao Hipermercado Andorinha, 15 minutos de sua casa. Avisou o caçula e também sua outra filha, Natália, de 12 anos. Trancou o portão, deixou um leve beijo na testa de cada um, despediu-se e saiu com o carro. Natália estava falando ao telefone com a amiga de escola e irritou-se com o carinho da mãe, que fingiu não ter visto a grosseria.

Após 5 minutos sem a mãe em casa, as crianças estavam cada uma em seus quartos. Natália ainda falava ao telefone com a mesma amiga, contando sobre o fim de semana de passeios no shopping próximo à sua casa.

Bruno estava vendo televisão. Assistia seu programa de humor predileto, a contragosto da mãe que achava o conteúdo impróprio. De repente, ouvir um barulho na porta e correu para desligar o telefone. “Mamãe chegou”, pensou o garoto.

Calçou os chinelos e foi em direção a escada chamando pela mãe. Ao pisar no primeiro degrau percebeu a movimentação estranha no andar de baixo e travou na escada. “Quem está aí...?”, perguntou o garoto, praticamente inaudível. “Cala a boca moleque!”, retrucou o desconhecido.

Nesse momento, seu Luís, o vizinho da casa ao lado, havia terminado de jantar. Caminhava em direção à sacada para fumar seu rotineiro cigarro. “Um dia isso ainda vai te levar”, dizia a mulher. “Um dia todos iremos morrer”, retrucava o senhor de 62 anos.

Chegou na escada, retirou o maço de cigarro do bolso e observou a velha foto que estampava a caixa de cigarro. A caixa dessa vez trazia o aviso sobre a impotência sexual. “Pior do que está não fica!”, sorriu o senhor para, em seguida, acender o cigarro.

Bruno voltou correndo, em desespero e gritou a irmã. Foi a primeira reação que teve, praticamente não conseguia falar. Apenas chorava e gritava. “Socorro! Ladrão!”. A irmã percebeu o desespero do irmão e sabia que não se tratava de uma brincadeira infantil. Entraram no quarto dos pais, que dava acesso à sacada. Não queriam ficar, queriam sair de qualquer jeito.

“Cadê a chave? Fecha logo a porta!”, gritou o menino. “Estão na gaveta do banheiro, fica aqui, eu vou buscar”, respondeu Julia. “Não!!”, gritou Bruno. Tarde demais, Julia já havia saído. Voltou rápido, mas foi o tempo suficiente para encontrar o irmão ainda mais assustado e desesperado. Trancaram a porta e passaram a abrir a porta da sacada.

A essa altura, o barulho das crianças já chamava a atenção de Seu Luís. De onde estava não conseguia ver a sacada vizinha e por isso caminhou em direção ao deck da sacada. De início, achou que era alguma brincadeira de mau gosto.

Ao chegar ao deck, no entanto, conseguiu observar a casa vizinha. Viu as crianças, desesperadas, saindo do quarto dos pais. “Socorro!! Ladrão!”, gritava Bruno, o mais afoito.

Seu Luís então chamou as crianças e as ajudou a passar para a sacada em que estava. Primeiro foi Bruno, que não mais soltou o aposentado. Depois foi Julia que, se até então estava firme, passou a chorar compulsivamente assim que pisou na sacada vizinha.

Seu Luís não conseguiu ver, pois estava com as crianças, mas ouviu o barulho do portão e de pessoas correndo em retirada. Chamou a polícia na hora e logo avisou Noêmia, que voltou imediatamente, sem as cartolinas.

A advogada ainda chegou antes que a polícia e correu para abraçar os filhos, um pouco mais aliviados. Após verificar que as crianças estavam bem, agradeceu Seu Luís e esperou pela chegada da polícia, mesmo sabendo que os criminosos já não estavam mais na casa.

A polícia chegou, entrou na casa juntamente com a moradora e não achou nada. Por incrível que pareça, nada foi roubado. Talvez parte da inocência e do sossego de duas crianças, que terão de superar um trauma em sua própria casa.

A polícia iniciou as buscas aos bandidos (supõe-se que seja mais de um), mas ainda não encontrou ninguém. Noêmia prestou queixa no 39º DP e, depois, voltou à companhia dos filhos, que estavam com Seu Luís.

domingo, 29 de agosto de 2010

Somos jornalistas!


Somos jornalistas

Somos escritores

Não somos super-heróis

Nossa missão não é salvar o mundo

Ao menos não a minha

Só quero mostrar o que há de bom em nossa vivência

E chamar a atenção para o que pode melhorar

Não somos perfeitos

Não sabemos tudo

Buscamos informações

Com ética e responsabilidade

É nosso dever entender o que é de interesse público

Nosso trabalho não para

Muito menos nossa determinação pela informação

Não devemos esconder nossas posições

Desde que o leitor saiba

A objetividade e imparcialidade não existem

São frutos de redações ultrapassadas

Trabalhando como empresas

Visando apenas ao lucro

Ser jornalista não é fácil

Principalmente porque todos acham ser fácil

Não é apenas escrever

Não é apenas gostar de escrever

É um comprometimento que pode soar piegas

Mas que é entendido por quem gosta da profissão

Se eu amo o jornalismo?

Só o tempo dirá

Difícil não idealizar a profissão

Quero escrever

Buscar histórias

Contar histórias

As esquecidas

As excluídas

As pouco lembradas

Quero conhecer o mundo

Conhecer as pessoas

Quem sabe um dia entenda

Ao menos em partes

A delícia da vida e do viver...


“Viver é super difícil. O mais fundo está sempre na superfície”

Paulo Leminski

“Vai dar merda!”

Escrevi esse texto como uma espécie de versão para o caso do goleiro Bruno, ex-Flamengo. No entanto, o texto não segue exatamente o que foi noticiado pela imprensa geral. Como é um caso que já foi saturado, preferi escrever uma versão minha, com sequências que imaginei e que não representam a realidade. Se quiser e puder, deixe um comentário dizendo o que achou do texto.


“Vocês não precisam ficar. As próximas cenas não serão nada agradáveis”, advertiu e em quinze minutos depois voltou com um saco preto. Era pesado e praticamente impossível de se perceber o que poderia haver nele.

O homem segurava o saco com as duas mãos, mas não indicava dificuldades para carregar o que parecia pesado. Pelo contrário, andava como se estivesse orgulhoso daquilo, exibindo sua caça, mostrando o que havia sido abatido.

Caminhou em direção ao canil da residência sem nem ao menos dirigir o olhar aos presentes. Se o tivesse feito, veria uma interrogação no rosto de cada um. Um misto de dúvida, aflição e agonia.

Ninguém queria acreditar, todos tinham de medo de admitir mas, sim, era o corpo da jovem Eliza Samudio que repousava dentro do saco. Repousava porque já havia passado por todas as atrocidades imagináveis durante os últimos dias. Finalmente, parecia ter encontrado seu descanso, mesmo que não fosse o desejado. Agora seu corpo estava quieto, parado, em repouso, mas também esquartejado.

O homem parou em frente ao canil a observar os quatro cachorros pretos que latiam sem parar, ansiosos e temerosos pelo que haveria de se seguir. Ele então abriu o saco, retirou uma das mãos da jovem e atirou aos cães, como quem atira um brinquedo a um animal. Novamente, colocou os braços dentro do saco preto e atirou a outra mão da mulher no canil.

A reação foi imediata. Os cachorros atacaram as partes do corpo da jovem com voracidade, enojando quem podia ver as cenas de longe. Em minutos tudo estava acabado e o rastro de sangue ainda no canil e na boca dos animais, que seguiram para refrescar-se e limpar-se na água que estava ao lado do local, coberto, onde eles dormiam.

O homem não apresentou uma reação sequer. Agiu como se estivesse preparando uma salada, cortando os tomates e atirando-os contra a alface já picada. Não sorriu, não chorou, apenas continuou sério. Fechou o saco preto e recolheu-o para um canto escuro.

Quem estava na cena não pôde acompanhar o restante das cenas. Ele voltou então, cerca de dez minutos depois, sem camisa. A vestimenta estava em suas mãos, sujas de sangue.

O menor, que havia sido o responsável por levar a jovem ao cativeiro, observava tudo e temia pelo pior. Algumas lágrimas brotaram em seus olhos e a sensação foi d’uma tristeza que ele jamais conseguiu explicar a ninguém. O olhar perdido ia buscar repouso nas lembranças da família, que logo poderia ver. Aquele segredo, no entanto, ele teria de guardar. Será que conseguiria?

“Fiquem de olho nesse moleque! Eu não vou me sujar a toa”, declarou o homem, sem olhar para ninguém. Muito menos aumentou o tom de voz. Ele simplesmente caminhou em direção à porta da casa, a mesma por onde havia saído, e ao chegar perto do grupo chamou a atenção para o nervosismo demonstrado pelo garoto.

Entrou, fechou a porta e foi tomar um banho. Os que estavam lá fora tentavam controlar a ansiedade para descobrir o que havia acontecido com o restante do corpo da jovem. “Vamos embora”, disse Bruno. Ele estava calmo, sabia o que iria acontecer no local e não se assustou com os acontecimentos. Todos o seguiram, como sempre.

Ele abriu a porta do motorista, entrou no carro, ajeitou-se, encostou a cabeça no banco e respirou fundo. Um respiro de dúvida, talvez de medo. Um receio do que aconteceria a seguir. Ele então olhou para trás. O menor estava apavorado, segurando o choro, mas conseguiu dizer. Talvez as palavras mais claras já ditas por ele. Talvez as mais sinceras. Talvez, para o goleiro, as mais assustadoras: “Isso vai dar merda!”

sábado, 28 de agosto de 2010

A tal da York Street

Nesse exercício, descrevi uma rua em estilo literário. Nesse caso, uma rua da cidade de Kennebunk, Maine, EUA. A história é verídica. Se você gostou do texto deixe seu comentário. Se não gostou, deixe sua crítica. Espero que gostem!

Era cedo, cerca de nove horas da manhã, mas meu relógio biológico já anotava o horário do almoço e meu estômago implorava por alimentos. No carro, eu e o Sr.Andrew, que com o tempo vestiria a carapuça de chefe-indesejado. Até então a conversa entre os dois era tranqüila, pautada pelo respeito mútuo e uma tentativa, por parte do norte-americano, de deixar-me à vontade no novo país. Foi nesse contexto que entrei, pela primeira vez, na York Street, ou Rua York até então. Fiquei encantado.

Era apertada. Tinha dúvidas se dois carros em direções diferentes poderiam usufruir da rua ao mesmo tempo. As casas correspondiam ao estilo norte-americano que tinha em mente. A grama repousava por debaixo da espessa e antiga camada de gelo que cobria o pequeno jardim à frente das residências.

O restante da neve estava sobre o telhado baixo das casas e parecia teimar em não cair. Algumas tinham dois andares, outras, uma garagem ao lado das casas para guardar os carros que pareciam não querer desafiar o mau tempo. Mau tempo que se explicava naquele momento com um frio que cortava e ao mesmo dava as boas-vindas. O Sr.Andrew continuava a falar, mas percebia que minhas palavras e frases estavam todas juntas em minha boca. Uma querendo sair antes da outra, tamanha era a ansiedade e o gosto pelo novo que vivenciava no momento.

“Esta é a rua do Lodge”, disse ele e calou-se, a observar um jovem que mais parecia uma criança observando tudo e todos. De repente, falou novamente: “Este, na rua, é um dos brasileiros que já chegaram”. “Já o conheço”, respondi, “ao menos de vista”. “Deve estar indo ao mercado”. A rua parecia pequena. Deveria comportar algumas casas apenas e só. Seta para a direita, o carro vira e paramos. “É aqui”, disse o Sr. Andrew. Havíamos chegado ao hotel. Ao descer do carro fui em direção ao porta-malas, retirar minhas malas.

Esses segundos pareciam ter durado longos minutos, nos quais pude observar o que me esperava na vizinhança. O hotel eu já conhecia por fotos da internet. O susto veio quando percebi o real tamanho do local. Era grande e poderia dizer o mesmo do estacionamento, que comportava cerca de 20 a 30 veículos. A neve estava por todos os lados e o horizonte parecia...branco! Não nevava no momento em que cheguei e as ruas, em si, também não tinham os flocos brancos. Uma indicação de que aquela neve deveria ser mais antiga.

Até chegarmos ao hotel passamos pela York Street em sua área mais habitada, mas eu não havia visto sequer um comércio no local, tanto era meu espanto com a belíssima paisagem natural. Alguns dias a mais na cidade e eu perceberia que minha impressão inicial sobre a YorkStreet estava completamente errada, a não ser por algo que deixo para o final.

A rua não era apertada, era larga o suficiente para comportar quatro carros lado a lado. O aspecto facilitava a caminhada dos pedestres que podiam, por muitas vezes, caminhar pela rua já que a neve tomava conta das calçadas. Os pedestres, nesse caso, eram apenas os estudantes. Loucos e insanos o bastante para caminhar naquele frio. Frio este que já não me assustava tanto após as primeiras semanas.

Era como se eu estivesse mais acostumado com as temperaturas baixas. Andar, acreditem, não era o problema. A York Street realmente tinha muitas casas. Nos três meses que fiquei lá, no entanto, não vi sequer um’alma viva perto das residências. Talvez fosse pelo frio, talvez fosse cultural, talvez eu nunca saiba o por quê.

A rua não era pequena, pelo contrário, era grandíssima. Isso tornou-se um martírio a cada vez que decidíamos ir ao supermercado, academia, lavanderia ou até mesmo à pizzaria. Era longe. Era muito longe. Era realmente muito longe, mas valia à pena.

O comércio do local se resumia a duas pizzarias, uma frutaria, uma loja que vendia pinheiros para o Natal, um restaurante tailandês e, por mais incrível que pareça, uma sorveteria.

Esta rua talvez tenha sido o local mais visitado por mim em três meses nos Estados Unidos. E após quase 90 dias em solo norte-americano pude ter uma certeza. Minha visão sobre tal rua poderia haver mudado, mas algo ainda restava: continuava encantado com a York Street!

O Escritor Literário se apresenta!


Meu nome é Thassio Borges. Tenho quase 20 anos, que serão completados nos próximos dias. Nesse espaço quero colocar meus textos, divulgar meu trabalho na área de jornalismo literário. Trarei visões humanizadas e realistas de assuntos que considero pertinentes à mim e ao que me diz respeito como estudante de jornalismo.

O jornalismo literário, nos últimos meses, revelou-se para mim como uma vertente digna de quebrar as atuais regras do jornalismo. Não é novo, isso a maioria sabe. No entanto, está há pelo menos 50 anos empenhado em uma disputa constante com os modelos utilizados em grandes redações e em empresas jornalísticas que trabalham no sistema operacional e pautado por um jornalismo objetivo.

Quem conhece o jornalismo literário sabe que o objetividade, por si só, não existe. Somos jornalistas, mas somos seres humanos. Colocaremos sim nossas impressões, vivências e bagagens sociais, culturais, psicológicas e históricas nas reportagens que desenvolvermos. É uma ingenuidade acreditar que o jornalismo deve buscar apenas a objetividade.

Não sou o primeiro e nem serei o último (espero) a utilizar as técnicas narrativas do jornalismo literário. Também não considero minha iniciativa inovadora. Apenas quero criar um espaço em que textos possam ser vistos, apreciados, comentados, elogiados e também criticados, quando necessário.

Se você possui um blog e nele posta textos pessoais, deixe o link nos comentários. Esse espaço deve ser usado para que troquemos ideias e textos, literários ou não. Todos têm histórias para contar, é necessário coragem e disposição para fazê-lo.

Se ler os textos, deixe um comentário. Diga se gostou ou não. As opinião de cada visitante serão muito importantes para mim, principalmente pois estou começando agora.

O jornalista literário não adiciona emoções ao texto. Ele apenas encontra as emoções em um fato, situação ou personagem que o jornalismo tradicional não consegue enxergar. Espero encontrá-las e compartilhá-las.

Agradeço sua visita! Espero que volte e aprecie o conteúdo do Escritor Literário!